La cultura de trabajo es un valor que hay que transmitir - Contagiemos Valores
Maravilha, não? Sair das ruas e conseguir um emprego! Pergunto: que emprego é este? Sim, é um emprego honesto e necessário, mas necessário a quem? Quem "habitará" (entre aspas, pois não é uma moradia) o prédio com janelas tão bem limpas? E qual será o lugar ocupado por este limpador de janelas "dentro" da empresa? Nenhum... Em resumo, o rapazinho carismático e com possível TOC (brincadeirinha!!) saiu de um trabalho subalterno para outro: um trabalho em que ele terá hora para entrar e hora para sair (afinal, não queremos pagar hora-extra), um trabalho onde ele será compulsivamente engolfado pelo sistema capitalista.
Podem até cogitar: "ah, mas ele só não ganhou um emprego melhor porque ele não é estudado, não fez faculdade..." Como se vários empregos estivessem "dando sopa" por aí, como se o próprio capitalismo não planejasse já uma taxa de desemprego para manter o sistema quente e funcionando, para manter os indivíduos desejados, pois, afinal, conseguir um emprego bom, que banque a comida na mesa, as contas pagas e o aluguel, não é algo assim tão fácil para aqueles que estão fora do mercado de trabalho. Não vamos nem citar muito as demais motivações que este sistema, sutilmente, nos sugere: "você quer uma TV nova e maior e mais moderna"; "você quer um celular com a mais recente tecnologia" (que estará vigente por dois meses...), "você quer tirar fotos com uma câmera de qualidade, afinal, todos tiramos fotos: foto de quando sai, de quando chega, de quando toma café no Starbucks - por favor, né, a frequência a esses recintos é OBRIGATÓRIA! - fotos, fotos, fotos". Comprar traz uma sensação boa, preenche-lhe um vazio, pena que a sensação boa logo passa e o vazio retorna (e o pior é que isso muita gente sabe, mas continua fazendo...).
Voltemos à cogitação: por que, então, o moço da propaganda não fez faculdade? Por que ele é burro e incapaz ou por que ele não teve a oportunidade, às vezes, desde criança, de estudar?
Sim, temos casos magníficos e exemplares de pessoas que saíram da pobreza para adentrar no sistema de trabalho e permanecer nele vitoriosos! Pergunto: quantos casos temos e quantos "pobres" (no conceito capitalista) existem?
O valor glorificado pela cultura do trabalho é aquele de uma minoria que consegue, de uma maioria que tenta - mas nunca atingirá seu objetivo, pois o capitalismo funciona conforme se tem, como no vídeo, uma pessoa "superior" à outra com base no seu rendimento/salário. Funciona, ainda, a partir da existência de uma maioria (ainda maior do que estes que trabalham em empregos "bons" e "razoáveis") que tem como objetivo real apenas sobreviver por isto tudo, sendo apto a, na medida do possível, prover alimento, saúde e educação para seus filhos.
Isso de todos termos a mesma chance de crescer, estudar e entrar na faculdade é uma utopia formada pela própria ideologia capitalista que, conforme o rendimento, determina quem terá chances de subir na vida (ou de permanecer na "vida boa") e quem terá de servir como pedra nesta escalada.
Dito assim, usando termos como "determina", parece até que estamos num regime ditatorial em que não há movimento de classes: não é o caso! Há, sim, movimento entre as classes, porém, uma vez que você desce, é difícil subir e, uma vez que você sobe, é difícil descer.
Não defendo aqui nenhum regime socialista ou comunista existente neste mundo. Quero deixar isso bem claro, pois minha ideologia tem raiz num lugar tão simples quanto um livro infantil.
Abrir os olhos para a ideologia a nós imposta desde a infância é uma coisa dificílima. No meu caso, começou aos 24 anos, atingindo o que penso ser o ápice neste momento, aos 26. Foi uma quebra de ideologia, de pensamento e, até mesmo, de identidade. Porém, foi uma mudança da qual tenho muito orgulho. E gostaria que outros pudessem sentir o que sinto... Hoje, planejo "escapar" disso tudo: quero uma casa no campo, uma vaca, algumas galinhas, uma horta, um pomar, cachorros e gatos. Pelos meus cálculos (que ainda precisam de confirmação), consigo prover alimento para mim mesma e os demais animais com meio hectare. É claro que terei de trabalhar mais duro do que jamais trabalhei na vida, mas será um trabalho para mim, sem obrigações além de ter o próprio alimento.
Ninguém é burro ou incapaz, e meu objetivo ao escrever este texto não é, de maneira alguma, insultar ou diminuir ninguém. Antes de realçar meu objetivo com este texto, gostaria, ainda, de dizer que eu sei como é difícil chegar em casa depois de um longo dia de trabalho e ainda estudar para aquela prova da faculdade ou para aquele concurso. Eu sei que é chato discutir seriedades, e que muito melhor é sentar no boteco com os amigos, falar bobagens e dar risada. Mas a questão é: o que faz nós acharmos a discussão "teórica" mais chata do que a "mundana"? Não viria nossa falta de disposição do cansaço do trabalho em si, do cansaço da vida como ela é? Afinal, estudamos e trabalhamos para quê? Ter uma casa, um ou dois carros na garagem, filhos bem educados e alimentados, e viajar... Depois de tudo isso, o que você fez de sua vida senão seguir o plano geral do capitalismo para as pessoas que nele habitam?
Existe uma solução, por mais utópica e cheia de teorias de conspiração que ela possa parecer... Entretanto, antes de ela ser efetivada, a mudança tem que começar por todos nós.
Meu objetivo, aqui, resume-se apenas em solicitar, educadamente, (e tal como o ET Bilu) que busquem conhecimento. Não o conhecimento que fará você conseguir um emprego ou ganhar um aumento: busque conhecer o lugar onde você vive, conhecer as pessoas com quem você convive, conhecer você mesmo e o que está guiando toda e cada decisão sua. Busque saber porque você come determinado tipo de comida, porque você gosta de beijar na boca, porque um "monstro" em um filme representa, indubitavelmente, o mal. Busque, acima de tudo, descobrir os porquês da sua vida e se realmente há um vazio a ser preenchido por algo ou alguém.
É do saber comum que o ser humano nunca está satisfeito, que quer sempre mais, que não sabe parar, que quer o progresso acima de tudo. Estou aprendendo, aos poucos, que o vazio só é preenchido por algo exterior momentaneamente, ou seja: só você conseguirá encaixar internamente o que estava fora de lugar e tapar este buraco existencial que nos impulsiona para a vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário